MICROSOFT
ATACA COM WMA E QUER DOMINAR O SEGMENTO
Enquanto
a indústria fonográfica deflagra uma sonora epopéia contra
tudo e contra todos, a Microsoft investe em formato proprietário
de áudio e ameaça visivelmente o reinado do MP3.
O
leitor interessado em música digital já ouviu falar, certamente,
do formato WMA – Windows Media Audio. A priori, nada mais
é do que outro formato de áudio, só que com a grife Microsoft.
O
que poucos parecem atentar é que, enquanto o MP3 enfrenta
um desgastante processo junto à indústria e aos artistas,
o WMA vem ganhando notório espaço e outras empresas passam
a investir no que pode ser, em um futuro breve, o novo cenário
da música digital impulsionado pela internet.
O
MP3 foi criado há vários anos e ainda usa o mesmo algoritmo
de compressão que o consagrou. Trocando em miúdos, pode-se
dizer que o formato parou no tempo e é hoje exatamente o que
era ontem. É mais ou menos como aquela pessoa que ainda usa
uma versão 3.0 do Internet Explorer ou do Netscape e fica
chateado quando não consegue abrir uma página mais elaborada.
Enquanto
a gladiadora RIAA entra na arena contra os usuários que divulgam
a pirataria em forma de MP3, a Microsoft correu atrás e criou
o WMA, um formato tecnicamente superior ao MP3 e, para melhorar,
com a possibilidade de proporcionar exatamente o que a indústria
quer: segurança.
Durante
certo tempo, o maior problema do WMA foi a impossibilidade
de o usuário fazer os seus próprios arquivos. Com o lançamento
do Windows Media Player 7.0, tornou-se possível
copiar um CD inteiro para o formato WMA, que ocupa quase a
metade do tamanho do MP3 e não apresenta uma perda de qualidade
perceptível, de acordo com testes realizados pelos laboratórios
da ZDNet, no início deste ano.
Desde
então, os mp3 players passaram a ter suporte ao WMA e, hoje,
empresa alguma sequer tenta vender um aparelho portátil que
não reproduza WMA. Os programas para ouvir MP3, como o famosíssimo
Winamp, passaram a oferecer suporte ao formato da Microsoft.
Com
apenas dez dias disponível na internet, o Windows Media Player
7.0 ultrapassou a marca dos 3,4 milhões de downloads – uma
média de quatro downloads por segundo. Com ele, o usuário
pode converter uma MP3 para WMA na hora de transferir a música
para o aparelho portátil, de forma automática.
Mas
ainda não era suficiente. O que fazer com todas as MP3 que
as pessoas gostam de guardar no disco rígido? Quem tivesse
500MB de MP3 poderia reduzir para 250MB sem perda de qualidade,
bastava saber como proceder. Correndo contra o tempo, foi
lançado o Windows Media Encoder 7.0, ferramenta da Microsoft
que permite converter “on demand” não apenas músicas em MP3
para WMA, mas também dezenas de outros formatos multimídia,
sejam eles de som ou de vídeo.
A
maior cartada da Microsoft ainda estava por vir. Deixando
de lado a confusão entre RIAA x Napster, a empresa de Bill
Gates seguiu os passos de outras empresas que haviam desenvolvido
formatos seguros, como foi o caso do Liquid Audio e do grupo
que desenvolveu o SDMI, que hoje já não é mais tão seguro
assim...
Mas,
o que são formatos seguros?
FORMATOS
SEGUROS DE ÁUDIO
Um
arquivo seguro de áudio é aquele onde o autor acrescenta uma
marca d’água (watermark) internamente no arquivo, contendo
informações e instruções binárias. A marca d’água nada mais
é do que um minúsculo código binário dentro de um arquivo,
também binário, este por sua vez contendo o áudio propriamente
dito.
Por
exemplo: a partir da marca d’água, é possível informar ao
arquivo que ele só pode ser reproduzido por um determinado
número de vezes; ou que a música de quatro minutos só toque
dois minutos. Depois, ele ficará inacessível e, a fim de desbloqueá-lo,
o usuário precisaria entrar com um código de acesso ou pagar
pela música, via internet, recebendo o arquivo desbloqueado
para download.
Evidentemente,
os formatos seguros também possuem desvantagens e limitações.
Eles não decretam o fim da pirataria e, talvez, apenas burocratizem
um pouco mais o prazer de ouvir uma boa música pela internet.
O fato, porém, é que a tecnologia avança para um maior regimento
em relação ao atual modelo de propagação sob a propriedade
intelectual.
Mais
uma vez, a Microsoft e o WMA estão no meio. A partir de um
outro utilitário da empresa, os usuários e as corporações
podem gerar arquivos WMA seguros, contendo informações pré-configuradas.
Quer dizer, o WMA começa a atacar por todos os lados. Contra
o MP3, sendo melhor tecnicamente e menor em tamanho, e contra
outros formatos seguros de empresas concorrentes.
OLHANDO
PARA TRÁS
É
comum ouvir dizer que a Microsoft jamais irá conseguir derrubar
a hegemonia do MP3. Prever o futuro, realmente, talvez seja
uma área mais indicada às cartomantes ou videntes. Entretanto,
o leitor pode analisar um pouco o passado e tirar conclusões
próprias.
Até
quatro anos atrás, ninguém ouvia falar em Internet Explorer
simplesmente porque a Microsoft não acreditava no potencial
da internet. Hoje, o Internet Explorer é o campeão em todas
as categorias. Não importa se como conseqüência de práticas
monopolistas ou não; simplesmente é o líder no segmento e
o preferido da maioria.
Há
menos de dois anos, quando se ouvia falar em áudio e vídeo
em tempo real pela internet – streaming e broadcasting – a
primeira coisa a se pensar era Real Audio, que depois transformou-se
no bombril Real Player.
Descoberto
o novo filão, a Microsoft passou a divulgar seu formato ASF,
um método seguro de propagar música em seqüenciamento (streaming).
O empreendimento brasileiro Usina do Som, por exemplo, pioneiro
e talvez o mais acessado no ramo, usa o ASF para reproduzir
as músicas tocadas pelas estações de rádio do site.
Hoje,
a RealNetworks tenta ao máximo correr atrás do prejuízo, precisando
lutar contra o Windows Media Player, o WMA e o próprio MP3.
A nova versão do Real Player tem suporte até mesmo ao Flash
4. Resta saber se os usuários resolverão instalar o brutamontes
da RealNetworks quando podem, com poucos cliques, obterem
praticamente os mesmos recursos com o Windows Media Player.
O
CALCANHAR DE AQUILES
Apesar
de a Microsoft estar em vantagem, pelo menos na questão técnica
e no fator praticidade, há uma barreira considerável contra
as investidas da empresa: a compatibilidade. E, sem dúvida,
a compatibilidade é a única pedra no caminho da Microsoft
contra o fim do reinado do MP3 e outros concorrentes.
Enquanto
o MP3 é um formato universal, isto é, aceito em diversos sistemas
operacionais, o WMA é exclusivo do Windows. O mesmo ocorre
com os arquivos da RealNetworks, que podem ser lidos no Linux
e outros sistemas.
Como
o submundo da internet ainda é bastante centrado no mundo
Unix/Linux, o WMA como propriedade do Windows haverá de encontrar
grande dificuldade de popularização. Contudo, no setor empresarial
e de streaming, neste exato momento, não há mais espaço para
o MP3 e, para o lado do Real Audio, o cerco se fecha gradativamente.
Falou
em áudio seguro ou streaming, a hegemonia começa a tomar o
mesmo rumo que tomou o Internet Explorer.
DICA
DA COLUNA
Se
você não usa e não pretende usar Linux, pelo menos por enquanto,
ateste a qualidade do WMA sem precisar fazer o download do
Windows Media Encoder ou Windows Media Player. Use um programa
chamado Shuffler Music Converter – ele converte de
MP3 para WMA e de WMA para MP3. Antes de usá-lo, não esqueça
de baixar o codec de reprodução do WMA, que pode ser encontrado
na mesma página.
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